Coração de evangelista

07/08/2012 18:04

 

"Porque o servo do Senhor não deve ser contencioso, mas sim amável para com todos, apto para ensinar, sofredor; que com mansidão corrija aos que se opõem, na esperança que Deus lhes conceda o arrependimento para conhecerem a verdade..." (2ª Timóteo 2:24-25).

As palavras dos versos anteriores descrevem bem o ministério de D. L. Moody (como usualmente se escreve o seu nome). Moody foi um evangelista usado por Deus para ganhar almas para o seu reino. A sua mansa e suave disposição lhe permitiram convencer dezenas de milhares de pessoas que "se arrependessem para conhecer a verdade" (2ª Tim. 2:25).

Dwight Moody, escolhido por Deus para estar no meio do avivamento de 1859-60 nos EUA, foi um vaso preparado para o uso do Mestre. Dizem que ganhou cerca de um milhão de almas nas chamadas evangelísticas de suas campanhas por toda parte do mundo. Estabeleceu três instituições de treinamento de ministros e para outros obreiros cristãos. Hoje em dia milhares de livros ingleses levam o selo da Moody Press', outra lembrança de seu influencia. O sobrenome Moody é muito conhecido pela maioria dos cristãos de fala inglesa. Por quê? A resposta está cheia de desafio e inspiração para todos nós que desejamos ser servos do Rei.

R. A. Torrey, sucessor de Moody como presidente do Moody Bible Institute, deu a resposta a esta pergunta em um trabalho memorial em 1923, vinte e três anos depois da morte do Sr. Moody. O título do discurso foi "As razões pelas quais Deus usou Dwight Moody". Destacou 7 pontos destacáveis das características mais importantes da vida de Moody. Poucos conheciam Moody tão intimamente como Torrey o conheceu.

A seguir transcrevemos o sermão de Torrey, levemente editado:

1. Um homem plenamente rendido

A primeira coisa que explica o porquê Deus usou a D. L. Moody tão poderosamente é que foi um homem plenamente rendido. Cada grama dos seus cento e vinte e sete quilos pertencia a Deus. Tudo o que era e tudo o que possuía pertencia totalmente a Deus. Não pretendo insinuar que o senhor Moody fosse perfeito; não era. Se tentasse, suponho que poderia enumerar alguns defeitos em seu caráter. Por causa da minha proximidade com ele, penso que conheci muitos defeitos que havia em seu caráter melhor do que ninguém. No entanto, sei que pertencia inteiramente a Deus.

O primeiro mês que estive em Chicago, tivemos um bate-papo a respeito de algumas coisas das quais diferíamos bastante, e o senhor Moody me falou com extrema bondade e franqueza dizendo em defesa do seu ponto de vista: "Torrey, se cresse que Deus quisesse que eu saltasse para fora dessa janela, o faria". E o teria feito. Se ele pensava que Deus lhe mandava fazer algo, o fazia. Pertencia totalmente, sem reservas, sem condições, inteiramente a Deus.

Enrique Varley, um amigo muito íntimo do senhor Moody nos primeiros anos do seu ministério, costumava relatar como uma vez havia dito ao senhor Moody: "Você tem que ver o que Deus faz com um homem que se rende plenamente a ele". Quando Varley disse isso, o senhor Moody lhe disse: "Bem, eu serei esse homem". E o que a mim diz respeito, não penso que "terá que ver" o que Deus fará com um homem entregue por completo a ele, pois já foi visto em D. L. Moody. Se você e eu tivermos que ser usados em nossa esfera como D. L. Moody foi na sua, devemos pôr o quanto temos e o quanto somos nas mãos de Deus para que nos use como ele quer, envie-nos para onde ele quer, e faça conosco o que ele quer, cumprindo da nossa parte tudo aquilo que Deus nos ordena. Há milhares e dezenas de milhares de homens e mulheres no trabalho cristão, homens e mulheres brilhantes, altamente dotados, que fazem grandes sacrifícios, que tem posto todo pecado consciente fora das suas vidas. No entanto, detiveram-se diante do mandato de uma rendição total a Deus, não alcançando, por isto, a plenitude do poder. Mas o senhor Moody não se deteve frente à entrega absoluta a Deus; foi um homem plenamente rendido, e se você e eu tivermos que ser usados, você e eu devemos ser homens e mulheres plenamente rendidos.

2. Um homem de oração

O segundo segredo do grande poder demonstrado na vida do senhor Moody era que foi no sentido mais profundo e cabal um homem de oração. Às vezes me dizem: "Sabe? Viajei muitos quilômetros para ver e ouvir D. L. Moody e certamente era um pregador maravilhoso". Sim, D. L. Moody certamente era um pregador maravilhoso; o mais maravilhoso que eu tenha ouvido, e era um grande privilégio ouvir-lhe pregar como somente ele podia fazê-lo; mas por causa do meu conhecimento íntimo dele, desejo testificar que foi muito mais um homem de oração do que um pregador. Diversas vezes deparou-se com obstáculos aparentemente insuperáveis, mas sempre encontrou o caminho para resolver qualquer problema. Ele sabia e cria no mais profundo da sua alma que "nada é difícil para o Senhor", e que a oração pode fazer algo que Deus quer fazer.

O senhor Moody costumava me escrever quando estava para empreender um trabalho novo, me dizendo: "Começarei a trabalhar em tal e tal lugar em tal e tal data; desejaria que reunisse os estudantes para um dia de jejum e oração"; e freqüentemente tomei essas cartas e as tenho lido aos estudantes no salão de conferências dizendo: "O senhor Moody quer que tenhamos um dia de jejum e oração, primeiro pela bênção de Deus sobre as nossas próprias almas e trabalho, e depois pela bênção de Deus sobre ele e o seu trabalho". Com freqüência nos reuníamos no mencionado salão até altas horas da noite; às vezes até a uma, as duas, as três, as quatro ou ainda as cinco da madrugada, clamando a Deus, só porque o senhor Moody nos insistia a esperar em Deus até receber a Sua bênção. Quantos homens e mulheres conheci cujas vidas e caracteres foram transformados por essas noites de oração, e que tem realizado coisas poderosas em muitos países graças a essas noites de oração!

Uma vez o senhor Moody veio a minha casa em Northfield e me disse: "Torrey, quero que desse uma volta junto comigo". Pus-me em sua carruagem e nos dirigimos para o Lover's Lane (O Passeio dos Apaixonados), conversando a respeito de algumas graves e inesperadas dificuldades que tinham aparecido referentes ao trabalho em Northfield e Chicago e atreladas com outro trabalho muito apreciado por ele. Quando viajávamos, umas nuvens negras precursoras de tormenta cobriram o céu e repentinamente, enquanto estávamos falando, começou a chover. Ele conduziu o veículo para um abrigo perto da entrada de Lover's Lane para proteger o cavalo. Em seguida, pôs as rédeas sobre o pára-lama e disse: "Torrey, ore"; em seguida orei o melhor que pude enquanto que em seu coração se unia a mim em oração. E quando fiquei calado, ele começou a orar. Como gostaria que vocês tivessem escutado essa oração! Nunca a esquecerei, tão simples, tão cheia de fé, tão precisa, tão direta e tão poderosa. Quando a tormenta cessou, voltamos para a cidade, e os obstáculos tinham sido aplainados; o trabalho nas escolas e outro trabalho que corriam perigo seguiram melhores do que nunca e continuaram até o presente momento. Enquanto voltávamos, o senhor Moody me disse: "Torrey, deixe que outros falem e critiquem; nós perseveraremos no trabalho que Deus nos encarregou, deixando que ele se encarregue das dificuldades e responda as críticas".

Sim, D. L. Moody cria no Deus que responde a oração, e não somente cria nele de maneira teórica, mas também de maneira prática. Enfrentou cada dificuldade em seu caminho com a oração. Tudo o que empreendeu foi respaldado pela oração, e em tudo dependia de Deus.

3. Um estudante profundo e prático da Bíblia

A terceira razão de o porquê Deus usou a D. L. Moody, é que foi um estudioso profundo e prático da Palavra de Deus. Hoje em dia dizem freqüentemente que D. L. Moody não era estudioso. Desejo dizer que era estudioso; em grande maneira era um estudioso. Não era um estudante de psicologia; tampouco de antropologia, estou bem seguro de que ele não saberia nem o significado dessa palavra; não era um estudante de biologia nem de filosofia, nem ainda era estudante de teologia no sentido técnico; mas era um estudioso: um estudante profundo e prático do único Livro que merece ser estudado mais que todos os outros livros no mundo: a Bíblia. Cada dia da sua vida, e tenho razões para afirmá-lo, levantava bem cedo para estudar a Palavra de Deus, até o ocaso de sua vida. O senhor Moody costumava levantar-se por volta das quatro da madrugada para estudar a Bíblia. Ele me dizia: "Para conseguir estudar algo, tenho que me levantar antes que os outros"; e se fechava em um cômodo separado da sua casa a sós com o seu Deus e a sua Bíblia.

Nunca esquecerei a primeira noite que passei em seu lar. Havia me oferecido para tomar a superintendência do Instituto Bíblico e já tinha começado o meu trabalho; eu estava no caminho para uma cidade do leste para presidir na Convenção Internacional dos Obreiros Cristãos. Escreveu-me dizendo: "logo que termine a Convenção, venha a Northfield". Inteirou-se acerca de quando aproximadamente eu chegaria, e conduziu a sua carruagem a South Vernon para me esperar. Essa noite reuniu todos os professores da Escola do Monte Hermon e do Seminário de Northfield em sua casa para ver-me e para intercambiar idéias em relação aos problemas de ambas as escolas. Falamos até altas horas da noite e em seguida, os diretores e os professores das escolas tendo já partido, o senhor Moody e eu conversamos um momento a mais a respeito dos problemas. Era muito tarde quando me deitei essa noite, mas perto das cinco da manhã ouvi uma batidinha em minha porta. Depois ouvi o senhor Moody dizer em voz baixa: "Torrey, já se levantou?". Casualmente já estava em pé; não era meu costume me levantar essa hora, mas já estava de pé nessa manhã em particular. Disse-me: "Quero que venha a um lugar comigo", e fui com ele. Em seguida me dei conta de que ele já tinha estado uma ou duas horas em seu quarto estudando a Palavra de Deus.

OH, você pode falar e falar sobre o poder; mas se deixar de lado o único Livro que Deus lhe deu como instrumento através do qual ele compartilha e exercita o Seu poder, não o terá. Pode ler muitos livros, assistir a muitas convenções e ir a reuniões de oração para orar toda a noite pelo poder do Espírito Santo; mas a menos que persevere em uma conexão constante e estreita com o único Livro, a Bíblia, você não terá poder. E se alguma vez o conseguisse, não o manterá sem um estudo diário, sério e intensivo desse Livro. Noventa e nove cristãos de cada cem estão meramente gastando tempo com estudo Bíblico e, portanto, noventa e nove cristãos de cada cem são meramente fracotes quando deveriam ser gigantes tanto em sua vida cristã como em seu ministério.

O senhor Moody atraiu grandes multidões devido em grande parte ao seu conhecimento completo e prático da Bíblia. E por que ansiavam tanto em ouvir-lhe? Porque sabiam que embora não fosse perito em muitas das correntes filosóficas, crenças e novidades em voga conhecia muito bem o único Livro que este velho mundo deseja conhecer: a Bíblia.

OH, irmãos, se desejam obter um auditório e fazer algo de bom a esse auditório uma vez obtido, estudem, estudem, ESTUDEM o único Livro, e preguem, preguem, PREGUEM o único Livro, e ensinem, ensinem, ENSINEM o único Livro, a Bíblia, o único Livro que contém a Palavra de Deus, o único Livro que tem poder para reunir, manter a atenção e abençoar as multidões durante qualquer período de tempo, por mais longo que seja.

4. Um homem humilde

A quarta razão de o porquê Deus usou a D. L. Moody constantemente, através de tantos anos, é porque era um homem humilde. Penso que D. L. Moody foi o homem mais humilde que conheci em toda minha vida. O senhor Moody gostava de citar as palavras de alguém: "A fé consegue mais; o amor trabalha mais; mas a humildade conserva mais". Ele mesmo possuía a humildade que conservava quanto podia. Como já tenho dito, foi o homem mais humilde que conheci, ou seja, o homem mais humilde considerando as coisas grandes realizadas por ele e os elogios que lhe tributaram. Como gostava de ficar no último lugar e por os outros em primeiro plano! Quão freqüentemente ficava de pé sobre a plataforma com alguns de nós, insignificantes companheiros, sentados atrás dele e quando falava nos mencionava assim: "Há homens melhores que vêm por trás de mim!". Ao dizer isto apontava para trás do seu ombro com o seu dedo polegar aos "insignificantes companheiros". Não entendo como podia crer nisto, mas realmente cria que os outros eram seriamente melhores do que ele. Não simulava ser humilde. No íntimo do seu coração constantemente se subestimava a si mesmo e superestimava a outros. Sinceramente cria que Deus ia usar a outros com maior intensidade do que a ele.

O senhor Moody se agradava em ficar no último plano. Nas convenções de Northfield, ou em qualquer outro lugar, empurrava outros para frente e, se pudesse, lhes fazia pregar todo o tempo: McGregor, Campbell Morgan, Andrew Murray, e outros. A única maneira de fazer tomar parte no programa era ficar em pé na convenção e dar sugestão que escutássemos a D. L. Moody na reunião seguinte. Sempre queria passar inadvertido.

OH, quantos homens prometeram muito e Deus os usou, e em seguida pensaram que eram uma grande coisa e Deus se viu obrigado a deixá-los de lado! Creio que os obreiros mais promissores tem se despedaçado contra as rochas mais por sua própria estima e auto-suficiência do que por qualquer outra causa. Nestes últimos quarenta anos ou mais posso me lembrar de muitos homens que hoje estão na ruína e na miséria, homens que em um tempo se pensava que iam chegar a ser algo grande. Mas desapareceram por completo da cena pública. Por quê? Porque se superestimavam. Quantos homens e mulheres foram deixados de lado porque começaram a pensar que eram importantes e Deus teve que pô-los à parte!

Deus usou a D. L. Moody, no meu entender, em maior grau que a qualquer outro em seu tempo; mas isso não o afetava, nunca se envaideceu. Em uma oportunidade, me falando de um grande pregador de Nova Iorque, já morto, o senhor Moody disse: "Uma vez cometeu um engano muito grave, o mais grave que eu teria esperado de um homem tão sensato como ele. Se aproximando do final de uma breve mensagem que tinha dado me disse: 'Jovem, você apresentou uma grande conferencia esta noite'". Em seguida o senhor Moody continuou: "Que necedade o que tem dito! Quase me envaideceu". Mas, graças a Deus não se envaideceu e quando quase todos os pastores da Inglaterra, Escócia, e Irlanda e muitos dos bispos ingleses estavam preparados para seguir a D. L. Moody onde quer que os guiasse, ainda assim nunca o envaideceu nem um pouquinho. Prostrava-se sobre o seu rosto diante de Deus, pois sabia que era humano e lhe pedia que o esvaziasse de toda auto-suficiência. E Deus o fazia.

OH homens e mulheres, especialmente homens e mulheres jovens! Possivelmente Deus está começando a lhes usar; provavelmente as pessoas já dizem de você: 'Que dom lindo que tem como ensino bíblico! Que poder tem como pregador por ser tão jovem!'. Escute: prostre-se diante de Deus. Creio que esta é uma das artimanhas mais perigosas do diabo.

Quando o diabo não pode desanimar uma pessoa, aproxima-se com outra tática, a qual ele sabe que é mil vezes pior em seu resultado; ele o elogia sussurrando em seu ouvido: 'Tu és na atualidade o primeiro evangelista. Você é o homem que varrerá com tudo o que puser por diante. Você é o que vai até mais adiante. Você é o D. L. Moody deste tempo'; e se você der ouvido, ele lhe arruinará.

Em toda a costa da história dos obreiros cristãos jazem os restos dos naufrágios de nobres embarcações, portadoras de grandes promessas em poucos anos. Naufragaram porque os seus tripulantes se inflaram e foram levados pelos ventos impetuosos de sua própria estima para as rochas onde se despedaçaram.

5. Um homem livre do amor ao dinheiro

O quinto segredo do poder e atuação sem variações de D. L. Moody é que foi um homem livre por completo do amor ao dinheiro. O senhor Moody poderia ter sido rico, mas o dinheiro não tinha encanto algum para ele. Gostava de juntá-lo para a obra do Senhor, mas recusava acumulá-lo para si mesmo. Disse-me durante a Feira Mundial que se tivesse aceitado os direitos de produção dos hinários publicados por ele, teria ganhado até esse momento um milhão de dólares. O senhor Moody se negou a tocar no dinheiro. Pertencia-lhe por ser o responsável pela publicação dos livros, e, além disso, o dinheiro empregado na primeira edição veio do seu bolso. O senhor Sankey tinha uns hinos que tinha levado para a Inglaterra e desejava que fossem publicados. Foi a uma editora (creio que foi Morgan and Scott) e eles recusaram publicá-los, pois como diziam, Philip Philips tinha passado recentemente e publicado um hinário e não tinha tido êxito. De todos os modos, o senhor Moody tinha algum dinheiro e disse que o investiria na publicação desses hinos em edição econômica, e assim o fez. Os hinos tiveram uma venda extraordinária e inesperada; em seguida foram publicados em forma de livros e aumentaram em grande maneira os ganhos. Estes foram oferecidas ao senhor Moody, que se negou a tomá-los. "Mas", suplicaram-lhe, "o dinheiro é seu"; mais ele não tocou neles. O senhor Fleming H. Revell era nesse tempo o tesoureiro da Igreja da Avenida Chicago, conhecido usualmente como o Tabernáculo Moody. Somente o subsolo deste novo templo foi construído, pois tinham acabado os recursos monetários. Informado da situação dos hinários o senhor Revell sugeriu, em uma carta dirigida a amigos em Londres, que o dinheiro fosse destinado para terminar o edifício. E assim foi. Depois chegou tanto dinheiro, que precisou ser destinado a várias atividades cristãs por uma junta em cujas mãos o senhor Moody pôs o assunto.

Em uma cidade a qual foi o senhor Moody nos últimos anos de sua vida, e aonde eu o acompanhei, foi anunciado publicamente que o senhor Moody não aceitaria oferta alguma por seus serviços. No rigor da verdade, o senhor Moody dependia até certo ponto do que recebia em suas reuniões, mas quando foi feito este anúncio, não disse nada e partiu dessa cidade sem receber um centavo pelo duro trabalho feito ali e, conforme creio, até pagou a sua própria conta no hotel. No entanto, um pastor dessa mesma cidade publicou um artigo em um jornal, eu próprio o li, no qual narrava um conto fantástico sobre os encargos financeiros com que o senhor Moody os tinha encarregado, relatório absolutamente falso como me constava pessoalmente.

Milhões de dólares passaram pelas mãos do senhor Moody, mas passaram de largo; não se apegaram em seus dedos. O dinheiro é o motivo pelos quais muitos evangelistas têm feito desastres, terminando com seus ministérios prematuramente. O amor ao dinheiro por parte de alguns evangelistas contribuiu mais que qualquer outra causa para desacreditar o trabalho evangelístico em nossos dias e para deixar mais vários no esquecimento. Guardemos a lição em nossos corações e nos cuidemos a tempo.

6. Um homem apaixonado pela salvação dos perdidos

A sexta razão de o porquê Deus usou a D. L. Moody é porque era um homem apaixonado pela salvação dos perdidos. O senhor Moody resolveu, pouco depois de ser salvo, que nunca deixaria passar vinte e quatro horas sem falar pelo menos a uma pessoa sobre a sua alma. Sua vida era muito agitada e às vezes esquecia a sua resolução até a última hora. Muitas foram as noites em que se levantou da cama, vestiu-se e saiu às ruas para falar com alguém a respeito da sua alma, a fim de não acontecer um só dia sem ter deixado de falar a ninguém dos seus próximos sobre a sua necessidade e do Salvador que podia satisfazê-los.

Uma noite o senhor Moody ia para a sua casa depois do seu trabalho. Era muito tarde e de repente recordou que não tinha falado a nenhuma pessoa esse dia a respeito de Cristo. Disse: "Eis aqui um dia perdido. Hoje não falei a nenhum e não encontrarei a ninguém nesta hora". Mas enquanto caminhava, viu um homem parado debaixo de um poste de luz. O homem era completamente desconhecido para ele ainda que como veremos em seguida, o homem sabia quem era o senhor Moody. Este caminhou para o desconhecido e perguntou: "Você é cristão?". O homem respondeu: "Não importa para você se sou cristão ou não. Olhe, se você não fosse um pregador, o atiraria num despenhadeiro por ser impertinente".

O senhor Moody disse algumas poucas palavras de todo coração e se foi. No dia seguinte esse homem visitou um dos mais importantes homens de negócios, amigo do senhor Moody, e lhe disse: "Esse tal Moody, está fazendo mais mal do que bem no lado norte (de Chicago). Tem entusiasmo sem sabedoria. Veio para mim ontem à noite, um perfeito desconhecido, e me insultou. Perguntou-me se era cristão e lhe disse que isso não lhe importava e que se não fosse um pregador, o teria atirado num despenhadeiro como impertinente. Está fazendo mais mal do que bem; tem entusiasmo sem sabedoria. O amigo de Moody lhe procurou e lhe disse: "Moody, você está fazendo mais mal que bem; tem entusiasmo sem sabedoria; ontem à noite insultou o meu amigo na rua. Você foi para ele, um perfeito desconhecido, e lhe perguntou se era cristão, e me contou que se não fosse um pregador o teria atirado em um despenhadeiro como impertinente. Você está fazendo mais mal do que bem; tem entusiasmo sem sabedoria".

O senhor Moody saiu do escritório desse homem um tanto cabisbaixo. Perguntava-se se não estaria fazendo mais mal do que bem, se realmente tinha entusiasmo sem sabedoria. (Permita-me dizer, de passagem, que é preferível ter entusiasmo sem sabedoria a ter sabedoria sem entusiasmo). Passaram as semanas. Uma noite o senhor Moody estava dormindo quando foi despertado por umas batidas violentas na porta da rua. Pulou da cama e correu até a porta. Pensou que a sua casa estivesse em chamas. Pensou que o homem ia derrubar a porta. Abriu a porta e ali estava aquele homem. Disse: "Senhor Moody, não pude dormir tranqüilo desde que você me falou debaixo do poste da luz e vim a esta hora porque não agüento mais; diga-me, o que devo fazer para ser salvo?". O senhor Moody o fez entrar e lhe disse o que devia fazer para ser salvo e o homem recebeu a Cristo.

Outra noite, o senhor Moody tinha chegado a sua casa e já tinha se deitado quando se lembrou que não tinha falado a ninguém esse dia a respeito de receber a Cristo. "Bom", disse consigo, "não convém me levantar agora: não haverá ninguém na rua a esta hora da noite". Mas levantou-se, vestiu-se, e foi para a porta da rua. Estava chovendo muito. "Ora!", disse, "ninguém andará lá fora com semelhante chuva!". Justo nesse momento ouviu as passadas de um homem que andava pela rua com um guarda-chuva. O senhor Moody o alcançou correndo e lhe perguntou: "Permite-me compartilhar o seu guarda-chuva?". "É obvio!", respondeu o homem. Então o senhor Moody o inquiriu: "você tem com que se refugiar nos tempos de adversidade?". E pregou-lhe a Jesus. Queridos irmãos! Se nós estivéssemos tão cheios de entusiasmo pela salvação das almas como o senhor Moody, quanto tempo Deus demoraria em enviar um poderoso despertamento que sacudisse todo o país?

O senhor Moody era um homem que ardia por Deus. Não só estava sempre ocupado, como também fazia outros também trabalharem. Uma vez convidou a Northfield para passar um mês com as escolas, falando primeiro em uma e em seguida cruzando o rio para falar na outra. Tive que cruzar repetidamente de uma a outra margem em um barco, pois ainda não tinha sido construída a ponte que hoje foi erguida nesse lugar. Um dia me disse: "Torrey, você sabia que o barqueiro que cruza você diariamente não é convertido?". Não me pediu que lhe falasse, mas entendi a indireta. Quando pouco depois se inteirou de que o barqueiro era salvo, ficou muito contente.

Outra vez, quando andávamos por uma rua de Chicago, o senhor Moody se aproximou de um homem completamente desconhecido para ele, e lhe disse: "Cavalheiro, você é cristão?". "Meta-se com as suas coisas", foi a resposta. O Senhor Moody insistiu: "Isto são as minhas". O homem disse: "Bom, então você deve ser Moody".

Em Chicago era conhecido como "o louco Moody", porque falava dia e noite a todos quantos podia, a respeito do que é ser salvo. Em certa oportunidade se dirigia a Milwaukee, e o assento que tinha escolhido era compartilhado com outro viajante. O senhor Moody se sentou ao lado e imediatamente começou a conversar. "Para onde vai você?", perguntou o senhor Moody. Quando soube o nome do povoado disse: "Logo chegaremos lá; vamos diretamente ao assunto: você é salvo?". O homem disse que não, e o senhor Moody tirou a sua Bíblia e ali no trem lhe mostrou o caminho da salvação. Em seguida disse: "Você deve receber a Cristo", e o homem o fez; converteu-se ali mesmo no trem.

A paixão pelas almas de D. L. Moody não se limitava às almas que lhe podiam ser úteis para levar o seu trabalho adiante; o seu amor pelas almas não conhecia limitações de classes sociais. Não fazia acepção de pessoas. Podia falar com um conde ou um duque ou com um menino desprezado da rua; dava-lhe a mesma atenção; era uma alma perdida e ele fazia o que podia para salvá-la.

Um amigo me contou que começou a ouvir falar do senhor Moody quando o senhor Reynolds de Peoria lhe disse que uma vez ele encontrou o senhor Moody sentado em uma cabana das 'vilas de emergência' que havia nessa parte da cidade ao redor do lago, a qual era conhecida nesse lugar por 'as Areias', com um negrinho sobre os seus joelhos, uma vela em uma das mãos e uma Bíblia na outra. O senhor Moody estava soletrando as palavras (pois o menino não sabia ler corrido) de certos versículos das Escrituras, numa tentativa por conduzir a esse ignorante menino de cor a Cristo. Homens e mulheres jovens e obreiros cristãos, se vocês e eu experimentássemos semelhante paixão pelas almas quanto tempo demoraria a que tivéssemos um despertamento? Suponhamos que esta noite o fogo de Deus caísse e enchesse os nossos corações; um fogo consumidor que nos envie por todo o país, e cruzando o oceano a China, Japão, Índia, África, para proclamar às almas perdidas o caminho da salvação!

7. Um homem ungido com poder do Alto

A sétima coisa que foi o segredo de o porquê Deus usou a D. L. Moody é porque estava ungido concretamente com poder do alto, tinha um batismo com o Espírito Santo muito claro e definido. O senhor Moody sabia que tinha "o batismo com o Espírito Santo"; não duvidava disso. Em sua juventude foi muito apressado, tinha um desejo tremendo de fazer algo, mas na realidade carecia de poder real. Trabalhava duramente na energia da carne. Mas havia duas mulheres humildes dos Metodistas Livres com quem costumava assistir as suas reuniões na YMCA (Associação Cristã de Jovens). Uma era a 'tia Cook' e outra a senhora Snow (parece-me que não se chamava Snow naquele tempo). Estas duas mulheres costumavam se aproximar do senhor Moody ao finalizar os cultos e lhe dizia: "Estamos orando por você". No fim, o senhor Moody começou a se irritar um pouco, e uma noite lhes perguntou: "Para que estão orando por mim? Por que não oram pelos que não são salvos?". Elas responderam: "Estamos orando para que você receba o poder". O senhor Moody não sabia o que significava isso, mas ficou pensando e depois se aproximou das mulheres e lhes disse: "Desejaria que me dissesse o que é que querem dizer com isso"; e elas lhe explicaram que é o batismo concreto com o Espírito Santo. Então ele quis orar junto com elas para que Deus lhe desse poder.

A 'tia Cook' me contou uma vez com que intenso ardor orou o senhor Moody nessa ocasião. Ela me disse isso com palavras que apenas me atrevo a repetir, mesmo que nunca as tenha esquecido. E não só orava com elas, mas também orava sozinho. Pouco tempo depois, pouco antes de sair para a Inglaterra, estava caminhando pela rua Wall Street de Nova Iorque (o senhor Moody muito raras vezes relatou isto e eu quase vacilo em contá-lo), e no meio do barulho e da agitação dessa cidade a sua oração foi respondida. O poder de Deus caiu sobre ele enquanto caminhava pela rua e teve que apressar-se para a casa de um amigo e lhe pedir que o deixasse sozinho em um quarto. Nesse quarto ficou durante horas, e o Espírito Santo veio sobre ele enchendo a sua alma com tanto gozo que teve que rogar a Deus que detivesse a sua mão, pois temia morrer ali de puro gozo. Saiu desse lugar com o poder do Espírito Santo sobre ele, e quando chegou a Londres (em parte pelas orações de um santo prostrado em uma cama da igreja do senhor Lessey), o poder de Deus fluiu poderosamente através dele no norte londrino, e centenas foram agregados às igrejas. Esse foi o ponto de partida para que fosse convidado para pregar nas maravilhosas campanhas realizadas nos anos posteriores.

Sempre o senhor Moody me dizia: "Torrey, quero que pregue sobre o batismo com o Espírito Santo". Não sei quantas vezes me pediu que falasse sobre esse tema. Uma vez, quando eu tinha sido convidado para pregar na Igreja Presbiteriana da Quinta Avenida, Nova Iorque (convidado por recomendação do senhor Moody; se não fosse por ele, tal convite nunca teria sido me estendido), justo antes de partir para Nova Iorque, o senhor Moody veio até minha casa e me disse: "Torrey, eles desejam que você pregue na Igreja Presbiteriana da Quinta Avenida de Nova Iorque. É uma igreja grande, enorme, custou um milhão de dólares para ser construída". Logo prosseguiu: "Torrey, quero lhe pedir somente uma coisa, quero lhe dizer sobre o que você deve pregar, quero que pregue esse seu sermão 'Dez razões pelas quais Creio que a Bíblia é a Palavra de Deus' e o seu sermão sobre 'o Batismo com o Espírito Santo'". Sempre quando me chamavam para ir a alguma igreja, ele me insistia: "Agora, Torrey, pregue sem falta sobre o batismo com o Espírito Santo". Não sei quantas vezes me repetiu isto. Um dia lhe perguntei: "Senhor Moody pensa que eu não tenho mais sermões além desses dois: 'Dez Razões pelas Quais Creio que a Bíblia é a Palavra de Deus' e 'o Batismo com o Espírito Santo'?". "Não importa", respondeu, "lhes dê esses dois sermões".

Uma vez ele tinha uns professores em Northfield: todos eles excelentes, mas não criam em um batismo definido com o Espírito Santo para o indivíduo. Criam que cada filho de Deus estava batizado com o Espírito Santo, e não criam em nenhum batismo especial com o Espírito para cada um.

O senhor Moody me disse: "Torrey, pode vir em minha casa depois do culto desta noite? Eu farei que venham esses homens, e quero que trate a respeito deste assunto com eles". É obvio aceitei. O senhor Moody e eu falamos um bom tempo, mas eles não concordaram em tudo conosco. E quando se foram o senhor Moody me fez um gesto para que ficasse uns momentos a mais. Sentou-se com a sua barba apoiada em seu peito, como fazia freqüentemente quando estava meditando profundamente; em seguida me olhou e disse: "por que se deteram em pequenezes? Como não vêem que esta justamente é a coisa que eles necessitam? São bons professores, excelentes mestres, e estou muito contente de tê-los aqui; mas como não vêem que o batismo com o Espírito Santo é o único toque que lhes faz falta?".